Project X é um daqueles filmes tão espalha brasas que uma pessoa sente-se terrivelmente compelida a vê-lo só para perceber de onde raio vem tanto entusiasmo. Quando vi os cartazes no cinema em Coimbra pensei que seria um horrível pestilência que não duraria mais que uma semana em cena pois a sua projecção teria o mesmo efeito nos cinéfilos que a arca da aliança teve nos nazis no final do Raiders of the Lost Ark. E mais uma vez pude comprovar que o preconceito cinematográfico é uma força em que devemos sempre confiar, mais poderosa do que o próprio amor ou aquela aversão perfeitamente injustificada de olhar directamente para um pedinte.
Eu sou, no entanto, uma pessoa duvidosa para falar deste filme em público uma vez que a minha lealdade a Animal House e Porkys me proíbe de apreciar uma comédia liceal. Mesmo sem essa lealdade seria muito complicado, porque as produções desse género que têm estreado nos últimos 15 anos têm-se revelado competentes laxantes.
É a falta de subtileza que faz deste filme um imenso monólito unidimensional sem sentido de narrativa inteligente, como um elefante epiléptico a fazer uma cirurgia cardíaca a um feto. Os eventos, pensamentos, conceitos são explicados demoradamente e de modo gráfico para que não fiquem dúvidas das intenção dos personagens. E as intenções são aquelas que todos sabemos, tratando-se de um grupo de adolescentes. E não falo propriamente em jogar ao pião nem em pokemons. Foder, para os mais retardados. Dou um exemplo. Um casal sobe de mão dada para o andar superior. Num filme de humor mais subtil bastaria uma insinuação e um olhar para se perceber o desenrolar. Num filme normal bastaria ver o casal a subir que a sua linguagem gestual daria a explicação. Em Project X vai um casal a subir as escadas, o gajo faz aquela cara de foda eminente soletrando com os lábios “Vou co-mer es-ta va-ca por trás…”, a gaja com cara de puta é também filmada por trás, com um ângulo inferior a mostrar o que vai por debaixo da mini-saia para se ver o cuequedo enfiado no rego e alguém fala em preservativos para o caso de haver ainda algum talego que não tenha percebido a insinuação sexual.
No final do filme, em cenário de devastação absoluta, largos milhares de dólares em prejuízos, processos em tribunal de seguradoras, vizinho e participantes, pessoas presas e mortas, uma comunidade destruída espera-se algum tipo de moral. Uma conclusão, um final lógico e civilizado. Curiosamente o que acontece é que o papá fica semi-orgulhoso com a proeza do filho em ter mutilado totalmente todo o futuro da família e outras coisas boas. O crime compensa? Não, mas aparentemente a estupidez sim. A banda sonora alternativa é bem melhor. Para acederem a ela basta carregar no botão de mute do telecomando.
Salve-se apenas o facto de ter sido repescado um dos saudosos elementos cinematográficos esquecidos: o lança chamas. Mas o facto de ser filmado naquele horroroso estilo da moda, como se fosse editado a partir de câmaras amadoras, deixa-me as tripas em polvorosa.