Fosse este filme realizado por um monte de merda qualquer e eu teria escarrado e mijado por ele abaixo e seguiria a minha vida imune ao seu inerte sentido de humor e à sua estéril contribuição para a historia da 7ª arte. Acontece que o realizador deste filme não é um monte de merda qualquer. É um monte de merda especial que já realizou alguns dos meus filmes preferidos, criou alguns personagens que venero e já foi ele próprio um icon da cultura junkie/geek vestindo a longa gabardina de Silent Bob. Estou a falar, obviamente, de Kevin Smith, esse gordalhufo que sabemos capaz de produzir genialidade, e que no entanto parece andar perdido num inferno de tarefeiro hollywoodiano a fazer um filme, que à sombra do conceito das “homenagens”, é na realidade um exemplo de unidimensionalidade amorfa que lhe pode valer o prémio “Era atar-te os tomates à traseira do comboio das 9 e dizer-te adeus com um lenço branco”.
Já não é a primeira vez que Kevin Smith pisa na bola (honremos os brasileiros que nos visitam). Já em Jersey Girl produziu um falhanço tal intensidade que a imagem de Jennifer Lopez teve que ser removida de todos os cartazes devido à fama de actriz horrenda que tinha e ainda tem. A não ser que a tivessem colocado nua, mas de costas, de joelhos a esfregar o chão ou a apanhar uma moeda. A inclusão de Ben Affleck nesse filme também não ajudou. Todos sabemos que deficiência mental e ciências de palco não combinam. Olhando agora para o passado e revendo mentalmente a carreira de Smith, tirando os 6 filmes do universo Viewaskew só se aproveita Zack and Miri Make a Porno. E mesmo assim poderia ter ido muito mais longe.
Cop Out é desde início uma “homenagem” aos filmes de duplas de polícia dos anos 80. E esse conceito é nobre, não o nego. O problema é que o grande (literalmente) Kevin tem medo que as pessoas não percebam e insiste tanto em que se note esta intenção que mais valia ter feito um monólogo após cada cena para se explicar. Como se isso não bastasse, após cada referência a um filme ou série tem alguém que dizer, usando vários artifícios, de que filme ou série se trata. Podem então imaginar o tipo de humor que temos a partir daí. Bruce Willis não se esforça . Parece passar o filme todo embaraçado por estar ali presente. O colega dele, o comic relief ou side kick, é de um tal nível de palhaçada que nem sequer o conseguimos identificar como estando a interpretar um personagem credível. É literalmente o palhaço pobre desta dupla de circo.
Estereótipos cartoonescos, uma catadupa de infindáveis clichés, personagens desnecessários, tentativas de humor mortas à nascença, enfim, um churrilho infindável de características de uma produção spoof, como os “qualquer coisa MOVIE”. É mais uma overdose dos cada vez mais insuportáveis 80s. Eu só vi até ao fim por vir de quem vem, senão até teria preferido passar a tarde a ensebar o varão à conta de um VHS da Cicciolina que encontrei a semana passado no sótão.